quarta-feira, 23 de março de 2016

EDUCAÇÃO = CURRÍCULO ESSENCIAL, SEM SUPÉRFLUOS E PENDURICALHOS









Em 11 de fevereiro de 2016
Duas coisas me chamaram a atenção nos últimos dias.

A primeira foi a publicação do ranking mundial do ensino, em que o Brasil figura entre os dez piores colocados - o que, pelo visto, não causa nenhum frisson, já que por aqui, importante é o ranking da Fifa.

A segunda diz respeito a uma conclamação do governo federal para que todos participem da elaboração do que estão chamando de "base nacional curricular".

A ideia é chegar-se a uma matriz que contemple matérias obrigatórias comuns a todas as escolas de todos os recantos do país, acrescidas de outras que atendam às peculiaridades de cada região.

Quero estar enganado, mas pelo menos três leis federais, editadas nos últimos quarenta anos, a saber, Lei Nº 5692/71, modificada pela Lei Nº 7044/82 e revogada pela Lei 9394/96, tratam do mesmo assunto, inclusive com nomenclaturas quase idênticas. Ou seja, o estabelecimento de um currículo comum a ser ministrado em todas as escolas brasileiras, acrescido de uma parte diversificada, para atender às demandas regionais. 

E mais: o currículo passou a ser organizado por áreas de ensino, que concentravam matérias afins. Por exemplo: a de comunicação, com o ensino de línguas e gramática; a de ciências, com matemática, ciências físicas, química; a de estudos sociais, com história, geografia e moral e cívica.

Gostaria de observar também, que, antes da aprovação das citadas leis, foi desenvolvido o projeto das escolas polivalentes, no finalzinho dos anos sessenta, com a construção de unidades nos Estados de Minas, Rio, Bahia e Espírito Santo.
 Posso afirmar que a filosofia desta lei já estava presente nestas escolas-modelo, que, além das disciplinas do currículo comum a todas as outras, trazia a novidade das artes práticas, com o objetivo de proporcionar aos alunos a iniciação ao mundo do trabalho.

Eram elas: as práticas industriais, as comerciais, as agrícolas e a educação para o lar.
Todas estas inovações, incorporadas à Lei nº 5692/71, foram sendo abandonadas ao longo do tempo e revogadas pela lei nº 9394/96.

Com estas considerações, estou querendo dar a minha modesta contribuição a esta discussão desencadeada pelo MEC e esperar, sinceramente, que o que dela resultar, represente a consolidação de um sistema de ensino que nos envaideça e leve o Brasil a patamares mais dignos.

 E quero também crer que o produto da proposta do governo não seja mais um remendo, tão ao gosto das nossas autoridades educacionais.
Em 13 de fevereiro de 2016, escrevi:

AINDA SOBRE O CURRÍCULO ESSENCIAL (me desculpem se volto ao assunto)

Você, como eu, deve estar vendo pela televisão, a chamada do governo federal para que todos participem da elaboração da base nacional curricular.

Nada mais oportuno. Quem tem a contribuir, deve fazê-lo. A idéia não é nova, como mostrei em texto sobre o CURRÍCULO ESSENCIAL, aqui postado no dia onze passado. O que, talvez soe como novidade – um pouco estranha por sinal – é a inclusão na peça publicitária, de uma frase que nos leva a pensar que já não se sabe mais o que ensinar, já que ela diz que é preciso definir o que os alunos da educação básica devem aprender.

Ideia coerente e que reforça a incômoda constatação da péssima posição do Brasil no ranking da educação no mundo. Segundo a agência que realiza o levantamento da situação do ensino, no nosso país, os estudantes saem do ensino básico sem o domínio pleno da leitura e das operações fundamentais da matemática. Em outras palavras: não estão aprendendo o que deve ser aprendido.

São muitas as razões que estão levando a isto. Entre as quais, cito a concorrência – até certo ponto cruel para a escola – das novas tecnologias da informação, cuja utilização nos currículos escolares tem sido feita aos trancos e barrancos, com uma crônica falta de pessoal especializado. 

O aluno acaba por ter de aprender sozinho. É só ligar o computador. O professor fica em segundo plano, quando não, ausente.

Com a sua permissão, caro (a) leitor (a), gostaria de ilustrar mais o tema, voltando ao final do século XIX e princípio do século XX, a uma cidadezinha do interior de Minas, chamada Capela Nova, onde funcionavam duas escolas primárias distritais: uma para o sexo masculino e outra para o feminino.

A do sexo masculino foi regida de 1880 a 1911 pelo meu avô paterno, Manoel Antônio da Costa Araujo – Neca Professor. O sistema de avaliação – pasmem – não era por escala numérica e, sim, por conceitos: aprovado simplesmente, aprovado com restrição, aprovado plenamente, reprovado.
 Eram feitos ao final de cada ano, dois exames, o escrito e o oral, sendo este perante uma banca presidida pelo inspetor distrital, e composta pelo professor e por mais dois examinadores externos. Os alunos eram arguídos sobre todas as matérias lecionadas. 

Quem fosse reprovado, ficava repetindo a série, até ser aprovado. A duração deste grau de escolaridade era em média de dois anos, podendo, em alguns casos, chegar a quatro. Em qualquer hipótese, o aluno não podia sair da escola, sem que o professor estivesse convencido de que ele tinha o domínio das matérias a seguir:
Leitura e escrita, com noções de gramática da língua portuguesa, Aritmética (4 operações com números inteiros e fracionários, até juros simples e regra de três), História do Brasil e de Minas Gerais, Geografia, Caligrafia, Noções de higiene, Trabalhos manuais e Canto (esta não sujeita a avaliação).

E a escola naquela época não era nenhuma maravilha. Passava por dificuldades, até difíceis de imaginar hoje. Mas tinha a seu favor o detalhe fundamental, de que parece estar carecendo a escola atual: os conteúdos a serem ensinados eram precisos e claramente definidos, tendo em vista o desempenho futuro do aluno, como cidadão consciente.

Sem esta clareza, que julgo estar sendo postulada pelo governo, a nossa escola vai continuar como um navio à deriva. E como já dizia o velho Sêneca, sábio romano: a uma nau sem rumo qualquer porto serve.

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